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terça-feira, 17 de março de 2009

ENTREVISTA COM CEZAR GORDO NA REVISTA SOLTO

Capa

Texto e Fotos: Jean Schwarz

Depois de muitas ligações, skypes e e-mails, nesta edição de início de ano a Solto traz aos leitores a esperada entrevista com Cezar Gordo. Faz um bom tempo que tínhamos o interesse de entrevistá-lo. Mas Gordo quase não para: tem uma rotina que vai de empresário frente aos negócios de sua loja Matriz Skate Shop (em sociedade com o amigo e também skatista Marcus Cida) e de skatista profissional.
A partir de agora, numa entrevista de texto rápido e com muito skate, o que pensa um dos maiores skatistas que este país já conheceu.


Gordo, sei que esta pergunta já é clichê em entrevistas, mas por que e quando você escolheu o skate como profissão?
Quando comecei a andar eu nunca imaginei que um dia eu fosse me tornar um profissional, até porque eu não conhecia nenhum e muito menos tinha informação, então comecei andando para me divertir, e as coisas foram acontecendo naturalmente, a única coisa que eu queria era andar e aprender manobras.

Entre inúmeras conversas que tivemos durante a sessão de fotos para esta entrevista, tocamos em um assunto que achei pertinente te perguntar agora, que é sobre o skatista ser atleta, ou melhor, ser chamado de atleta. O que você pensa a respeito?
Como o skate foi discriminado por muito tempo, criou-se uma geração que tenta provar que o skate é um esporte como outros, e até querem colocá-lo nas Olimpíadas, mas o skate é um esporte completamente diferente. É uma grande cultura, onde existe muita informação, música, arte... Muita coisa envolvida. Sinceramente você imagina uma delegação brasileira de skate, todo o mundo com uniforme competindo? Isso está muito longe do skate. Acredito que as Olimpíadas precisam muito mais do skate, do que o skate precisa dos jogos olímpicos.

Mas o Skate hoje em dia é considerado um esporte. Certo? Me explica este paradoxo. Skate esporte e skatista que não é atleta?
Vejo hoje o skate muito mais ligado na arte que no esporte. Se você parar para pensar, a gente passa na rua olhando toda a arquitetura e vendo onde é possível dar uma manobra, fazer um intervenção naquele lugar, onde vamos filmar ou fotografar, ou simplesmente andar por diversão. Enquanto a maioria da população foge das ruas, se tranca em condomínios, a gente ainda usa o espaço que muitas vezes está "abandonado" para virar um skatepark.

ss ollie

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Você foi campeão brasileiro de skate em 2004. Como é ser campeão brasileiro de skate, já que os campeonato profissionais estão em "extinção"?
Nunca fui um competidor como Ferrugem, Daniel Vieira, etc. Pelo contrário, nunca gostei das atitudes deles, vejo que o skate só chegou até onde chegou porque conseguimos trocar a palavra competição pela união.
Todo mundo quer ganhar um campeonato, não vou mentir, mas para isso você não precisa querer que os outros errem ou se deem mal, simplesmente faça sua parte e se for para ganhar, ganhou. Você já prestou atenção depois de uma volta de um campeonato, o "adversário" comemora com o outro, é disso que eu estou falando.
Ser campeão brasileiro não mudou muita coisa para mim, nunca busquei status, títulos ou fama com o skate, só quero andar de skate e buscar minha evolução por satisfação própria. Acontece às vezes de os leigos perguntarem: Ta, mas quem é o campeão? Nessas horas eu até saio de fininho. Hehehehe.

O que você acha que está acontecendo no Skate Brasileiro Pro? Será que está perdendo a força?
Com certeza não, o que está acontecendo é que estão surgindo competições diferentes, mais vídeos e há uma mudança. Às vezes até torço para o skate perder a força, porque é aí que você vê quem é verdadeiro e continua andando ou fazendo algo por ele, quando não há "boom" econômico, não há sanguessugas. Se você parar para analisar, antigamente a gente sabia quase todas as cidades que tinham pistas. Hoje em dia, onde você nem imagina que existe cidade, lá tem uma pista e uma galera andando... É louco ver que o skate tomou essa proporção.

Lembro que em uma de nossas conversas, falamos sobre os skatistas e seus "slogans". O que você pensa a respeito?
Teve uma época em que todos queriam ter uma frase: skate eterno, skate para sempre, skatista de alma, skate... ou o que for... Isso é puro marketing e colocar uma frase para lembrarem de você e não fazer nada pelo skate, ele nunca será eterno ou para sempre ou o que for. Sinceramente, quando eu morrer prefiro que nem lembrem de mim, mas aproveitem ou andem em alguma coisa que eu ajudei a construir. Aí, sim, a missão estará cumprida.


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Vemos atualmente o mesmo filme. Skatistas brasileiros correndo atrás do sonho da América. Ser patrocinado por uma empresa grande, multinacional, correr campeonatos internacionais, ganhar dinheiro e, acima de tudo, ter o reconhecimento. Na sua opinião, por que isso ainda é o sonho de muitos?
Não acho errado, desde que o skatista não ande só pelo reconhecimento e pela fama, ou por dinheiro. Porque senão a hora que isso acabar ele para de andar. Nunca se esqueça: 1 POR AMOR, 2 POR DINHEIRO.

Você teve inúmeras possibilidades e convites de marcas internacionais para viver do skate no exterior. Por que não foi?
Cada um tem um objetivo, na época o meu era ter um bom salário e poder viajar para outros países para andar, não morar lá, se eu conseguisse fazer isso e morar perto da minha família, amigos, namorada, na época eu ainda namorava a Marcela, eu ficaria aqui. Acabei conseguindo isso, felizmente esse objetivo deu certo.


Você é skatista profissional da marca Nike SB. Muitos como eu se perguntam: como funciona uma Nike SB?
Não muito diferente de uma marca de skate, mas com uma proporção muito maior. Tudo que envolve o nome da Nike as pessoas fantasiam, a gente precisa ter um cuidado, a responsabilidade aumenta.

Como surgiu o convite?
O Gerdal e o Chupeta já estavam no time, me apresentaram para o pessoal, que falaram que tinham interesse, me levaram em um jogo de futebol no camarote da Nike em São Paulo, então começamos a conversar... Fizeram uma proposta, fizemos diversas reuniões, mostraram os projetos que eles tinham e, depois de 2 meses negociando, eu entrei.

Como é ser contratado como skatista profissional de uma empresa como a Nike. O contrato é mesmo um livro? (risos)
O contrato é grande, mas não chega a ser um livro. O Seu Marloi (meu pai) que fica com essa parte, ele que lê e vê se está tudo OK.
Você está indo para a assinatura do terceiro model de tênis da marca. Como é o desenvolvimento do tênis?
Sempre em conjunto com o pessoal da Nike, no caso o Fabricio GUGU, que foi skatista profissional, trabalha como designer para a Nike Global, ele não desenha só skate, desenha tudo, e temos a sorte de tê-lo como aliado no nosso projeto. Afinal é muito mais fácil quando se fala com uma pessoa que entende de skate.

Fale um pouco sobre o Brasil Custom Series
I- Foi sobre a nossa história, onde começamos a andar de skate, foi um Dunk low (modelo de tênis da Nike SB), basicamente o meu foi inspirado na praça da Matriz.
II- Pico dos sonhos, foi inspirado em lugares que a gente sonhava em andar, foram chamados artistas para fazer um desenho surreal de um pico dos sonhos, modelo Dunk HI.
III- É um projeto junto com a música, resgatando os antigos walkmans que embalavam as seções nos anos 90, o meu é inspirado no fone de ouvido, todos foram limitados e só foram fabricados 480 pares.

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Hoje em dia você, além de skatista profissional, é um empresário do skate, tem uma loja, tem funcionários, promove campeonatos, patrocina e apoia outros skatistas.Como é estar no backstage do skate e sentir na pele o que muitos bons empresários do setor sentem?

Sempre foi meu sonho poder fazer alguma coisa pelo skate, afinal ele me proporcionou muitas coisas na vida, ter feitos grandes eventos e ter conseguido ajudar muita gente com uma loja de skate é bem legal, mas não para por aí, vamos fazer muitas coisas ainda...

Como aconteceu de montar a loja?
A loja surgiu de uma demanda natural, não tínhamos lojas especializadas de skate em Porto Alegre e resolvemos abrir uma. Aí a História é longa, muita coisa já aconteceu, queria aproveitar e agradecer a todos que já trabalharam conosco ou ainda trabalham e que fizeram parte desses quase 8 anos de Matriz Skate Shop. Continuamos firmes e fortes pra quem não acreditava que era possível ter uma loja somente de skate. A prova está aqui!

Vocês da Matriz tiveram um grande envolvimento na construção da pista do Iapi. Se organizaram e foram atrás. Tiveram reuniões com políticos... Lembro que até em algumas tive o prazer de participar. Mas por "ossos do ofício" acabei me distanciando e nunca soube como a história se deu. Explica como nasceu o projeto da pista.
Muita gente participou do projeto: Filipinas Pexão, Bocão e mais gente que eu não lembro, às vezes só a gente ganha o mérito, a real é que a gente esteve mais presente na construção... Quando a gente (eu e o Cida) foi ver, o sonho estava virando um pesadelo com as transições todas tortas... Aí, conseguimos parar a obra e modificar bastante coisa.

Se depender de Cezar Gordo, qual será o futuro do skate brasileiro?
Evoluir sempre!!!

E o futuro de Cezar Gordo?
Por enquanto estou tentando resolver menos problemas e andar mais de skate, fazendo vários exercícios para conseguir andar mais tempo, e o futuro é agora! Obrigado a todos, paz, saúde e muito skate!


nollie heelflip


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